EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
Reparos ou sugestões são bem aceites mas devem ser apresentadas pessoalmente ao autor.

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Vizeu, 2 de Maio de 1834


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No dia 2 de Maio de 1834, era grande a agitação na cidade de Vizeu, porque dizia-se que estava a chegar o Duque da Terceira, e com elle a liberdade constitucional. Com effeito, pelas 5 horas da tarde do mesmo dia, via-se um enorme concurso de povo estacionado na Ribeira. Notava-se em todos os rostos a maior anciedade pela chegada dos constitucionaes, pois que alli se achavam paes, filhos, e esposas, que desejavam vêr e abraçar os entes queridos que a guerra lhes trazia longe há dois annos. Por isso todos os olhares convergiam sobre os montes Castro, fronteiros a Abravezes, esperando a cada momento verem desembocar por as suas gargantas os victorioso soldados.
De subito um immenso brado de alegria rompeu de todas as boccas. Ao longe, no cume dos montes, via-se uma massa escura que tendia a crescer mais e mais.
Eram elles, eram os constitucionaes. Tudo correu ao seu encontro. Nos templos da cidade, repicavam festivamente os sinos, e sentia-se o estourar de numerosos foguetes.
A festa era enorme, echoando por assim dizer em todos os peitos. E com razão, porque Vizeu, que foi uma das cidades que mais tributo prestou á causa constitucional, gemia esmagada pelo absolutismo, e por isso anhelava a hora da liberdade, como arabe anhela a breve passagem do deserto.
A divisão já se via perto.
A´frente cavalgava o Duque da Terceira radiante de gloria e alegria. A banda da divisão tocava o hymno Constitucional.
E aquelles soldados cobertos de pó, cheios de cançaço, tinham todavia a força necessária para gritarem com o maior enthusiasmo: - Viva a Carta Constitucional! Viva D. Pedro IV!-
E´que adiante, muito perto já, descortinava-se Vizeu, a querida patria, o lar, a familia que não tinham visto ha dois anos. Por isso é que os fortes corações d’aquelles intrepidos, guerreiros se commoviam, sentindo correr as lagrimas de jubilo pelas faces tisnadas e denegridas pelo fumo e fragor das batalhas.
O quadro era comovente. A multidão que chegava corria a estreitar-se nos braços que lhe abria a multidão que esperava.
Os detalhes d´esta grandiosa scena eram puramente dramaticos.
Aqui via-se um velho alquebrado pelos annos, dizendo com a expressão de quem acha uma coisa que julgava perdida: - E´s tu, meu filho?...- e depois qual outro Semeão:- Agora poderei morrer em paz, Senhor !-
E o hymno da Carta echoava dulcissimamente em todos os corações como que dizendo-lhes:- Partiram-se as algemas Sois livres!- De facto, d’esse dia a esta parte ficou estabelecido em Vizeu, o systema constitucional.
Por isso é que o dia 2 de Maio é de festa para Vizeu porque celebra este fausto acontecimento.

Vizeu.
JOSÉ DE ALMEIDA E SILVA
In, “Album de Vizeu” - Typographia Universal, Rua do Almada, 347, Porto - 1884

"A Praça 2 de Maio"

"Inaugurado em 1879, como 'Praça 2 de Maio', este foi o mercado de Viseu durante mais de 100 anos. Um espaço marcado pelo cunho da História e das memórias. “2 de Maio” evoca o ano de 1834 e assinala um acontecimento marcante para Viseu nessa data: a entrada vitoriosa das tropas comandadas pelo 1º Duque da Terceira, após a derrota dos miguelistas. Depois disso, e ainda hoje, é o “mercado” para os viseenses. Tendo deixado de funcionar como tal no ano de 1990, este espaço nobre do centro histórico foi requalificado com a assinatura do Arq. Álvaro Siza Vieira em 2002 e é, hoje, um ex-libris da cidade.
Maio de 2014"

Conteúdo de placa colocada pelo actual executivo municipal a que preside o Dr. Almeida Henriques, que pretende cobrir o espaço da antiga praça para nele poder realizar, durante todo o ano, os mais variados eventos.