EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


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20150803

A "Casa do Arco - Solar dos Albuquerques"


"Vizeu - Casa do Arco", Bilhete Postal editado pela Papelaria Borges, Coimbra, circulado em  21 de Abril de 1906.
Escudo de fantasia em cartela de conchados, encimado por coronel de nobreza. Esquartelado: I  e IV - Albuquerque. II - Amaral. III - Cardoso. (MATTOS), Armando de - "O Tombo Heráldico de Viseu", Gaia, Oficinas da Sociedade Editorial Pátria - Lda, 1932, p.14 ).

A “Casa do Arco” ou “Solar dos Albuquerques”  localizada na Avenida Emídio Navarro, encostada à “Porta dos Cavaleiros”, foi mandada construir por D. João do Amaral Coelho, Capitão-Mor de Viseu, no séc. XVII, em data posterior a 1640. A casa foi herdada pela sua filha Dª. Eugénia do Amaral que veio a casar com D. Duarte Pacheco de Albuquerque Cardoso de Vilhegas, Morgado do Couto de Baixo, que continuou a aumentar e melhorar a edificação. Foi o seu filho D. Francisco de Albuquerque do Amaral Cardoso e Vilhegas quem deu ao imóvel a feição final que não sendo merecedora de menção especial é elegante, nas suas linhas sóbrias, com um bonito portal encimado com o brasão dos Albuquerques do Amaral Cardoso e várias janelas de moldura e avental.
A casa foi residência dos “Albuquerques”, os fidalgos do Arco, até ao final do séc. XIX. Em Agosto de 1882 hospedou o rei D. Luís e a rainha D. Maria Pia, o senhor do palacete António de Albuquerque Amaral Cardoso (1834/1911) que era um fervoroso “miguelista” ausentou-se para não ter de receber a família real e foi substituído pelo seu irmão Fernando Albuquerque que fez as honras da casa.
O solar ficou célebre pelas festas que ali aconteceram, pelo luxo e fausto que os seus donos gostavam de ostentar. A família começou a viver tempos difíceis, o último proprietário D. António de Albuquerque do Amaral Cardoso (1886/1923) foi um esbanjador, viciado no jogo e ficou conhecido por ser o autor de um livro considerado escandaloso - “O Marquês da Bacalhoa” [LER], publicado em 1908 que ridicularizava a família real e a monarquia.
A propriedade foi hipotecada e vendida em hasta publica, em 5 de Outubro de 1886, para pagamento de dívidas de jogo. Em 2 de Agosto de 1887 foi comprada pelo Estado para instalar vários serviços públicos e a Escola Prática de Agricultura. Da construção original nada resta além da fachada brasonada, a imponente escadaria, e vários painéis de azulejos. A Escola Industrial e Comercial de Viseu, actual Escola Secundária Emídio Navarro, ocupou o edifício que foi mais tarde adaptado para ginásios e refeitório. Recentemente a construção foi remodelada para receber, entre outros serviços a biblioteca e o museu.
A ligação da “Casa do Arco” e da vizinha “Fonte de S. Francisco” ao romance “Amor de Perdição”, de Camilo Castelo Branco, publicado em 1862, é uma fantasia, uma liberdade do romancista. O cinema, mais recentemente pela mão de Manoel de Oliveira, reforçou a “lenda” ao usar os locais como cenário para o seu filme homónimo (1978).

Fonte principal: "Monumentalidade Visiense" de Júlio Cruz e Jorge Braga da Costa [Ver]