EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
Reparos ou sugestões são bem aceites mas devem ser apresentadas pessoalmente ao autor.

20090712

Remendando (Mal) a Cava de Viriato


Para aqueles que não me conhecem e para os que possam pensar que sou um obcecado e que só estou contente, ou mesmo feliz, quando tenho oportunidade de fazer críticas negativas aos trabalhos levados a cabo na nossa cidade ao abrigo do Programa Polis, vou mais uma vez, confirmar que o monumento conhecido como “Cava de Viriato” me é muito querido. Vivi durante cerca de 50 anos nas suas imediações e naturalmente fiquei satisfeito ao saber que a edilidade tomara a iniciativa de fazer a sua “requalificação” uma vez que o monumento estava desprezado e quase votado ao abandono. Quando ainda muito criança “fugi” muitas vezes à minha mãe para ir visitar o “Biato”, enquanto jovem continuei a ser frequentador do local e assisti à lamentável e progressiva degradação do local, em adulto mantive uma ligação forte ao monumento escultórico de Mariano Benlliure dedicado a “Viriato” e aos vestígios da fortaleza construída em terra batida, de forma octogonal, com cerca de 2.000m de perímetro que segundo as recentes opiniões de arqueólogos será uma edificação com origem na civilização árabe construída há 10 séculos. Porém como “gato escaldado, de água fria tem medo...” fiquei na expectativa e desejoso de ver o resultado final. Agora e com as obras quase terminadas, ainda falta ligar a totalidade do novo sistema de iluminação, e “remediar” o grande erro que foi a instalação de uma “passadeira em granito” descaracterizadora do local, certamente cara e que se veio a revelar perigosa, já posso fazer um balanço dos resultados
Não pretendo olvidar que as obras desta primeira fase, no valor de 2 milhões de euros, permitiram realizar melhoramentos há muito necessários e desejados no interior do monumento. Na Rua do Coval, Rua do Picadeiro e na Rua dos Plátanos foram executados pavimentos em paralelos de granito, instalados sistemas de saneamento básico, electricidade, telefones, energia eléctrica e iluminação pública. Na Rua dos Plátanos não existiam distribuição de água ao domicílio, esgotos e o piso era ainda em terra batida. Foi criada uma praça junto da Rotunda do Coval equipada com WC e um pequeno bar de apoio. Também foi uma construída uma escadaria e uma rampa que passando sobre a Rua do Picadeiro permite aceder ao passadiço e foi criado um novo arruamento, contornando o interior dos taludes, ligando a Casa das Águias com o início da Rua dos Heróis Lusitanos, que se revelou ser um excelente e útil investimento. Já o entulhar da chamada “Cava de baixo”, um local de passeio construído no séc. XIX com bancos de pedra, um bebedouro e a retirada das escadarias que junto ao monumento a Viriato permitiam aceder à Cava de baixo e subir a muralha me pareceram duas opções erradas e mal executadas. Para justificar a sua presença bastaria colocar placas informativas... Percebe-se que a intenção seria restituir o aspecto primitivo da fortaleza cujo interior só era acessível depois de franqueadas pesadas portas de madeira assentes, com toda a certeza em contrafortes de granito, das quais não restou qualquer vestígio. Se a intenção era recuperar o aspecto original esse objectivo foi totalmente subvertido com a colocação da polémica “passadeira” sobre a muralha que além de não impedir a utilização de bicicletas foi um imenso desperdício que já originou várias quedas com ferimentos que poderiam ter sido muito graves [Ver vídeo]. Construir uma plataforma a cerca de 30 cm do chão e deixar entre as lajes um buraco de 15cm foi erro crasso. Para procurar resolver esse erro de concepção foi decidido tapar com terra os buracos e depois semear relva, tarefa que tem vindo a ser cumprida com lentidão exasperante.
Na passada semana a equipa especializada em jardins que foi contratada para executar os trabalhos foi reforçada com uma pequena máquina, pequena mas com cerca de 3 toneladas de peso, que ajudou a tapar mais rapidamente os tais perigosos buracos. Foi essa a solução encontrada para transportar a terra para o topo da muralha. Porém para aceder aos locais foi necessário abrir duas rampas, pelo interior junto da Quinta da Patarrega, que foram posteriormente tapadas de modo apressado e sem os necessários trabalhos de compactação. A grande fatia dos trabalhos executados durante semana finda aconteceu no troço que abrange a Rua dos Plátanos. Lamentavelmente a utilização do pesado equipamento deixou o passadiço em vários locais em mau estado, mais parecendo o local um campo mal lavrado. Durante os trabalhos prévios para colocação da "passadeira" foram executados trabalhos de consolidação, e nivelamento agora desperdiçados. Também nas perigosas escadarias, que dificultam o acesso a pessoas idosas ou com mobilidade reduzida, em má hora colocadas no troço entre o início da Rua dos Heróis Lusitanos e a Rua dos Plátanos, se iniciou o trabalho de preencher com terra os intervalos entre as lajes.
Como o texto já vai longo termino informando que as imagens mostram um percurso virtual que se inicia junto da Vila Batalha e termina no início da Rua dos Heróis Lusitanos. Curiosamente os responsáveis pela obra avançaram para um novo troço deixando por concluir o trabalho de semanas anteriores numa extensão de apenas cerca de 50 m.
Nos próximos dias a continuação da utilização da máquina, uma polivalente escavadora e transportadora, será mais difícil mas depois daquilo que presenciei já espero tudo! Aos habituais incrédulos bastará passar pelos locais para confirmar que não estou a exagerar.