EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
Reparos ou sugestões são bem aceites mas devem ser apresentadas pessoalmente ao autor.

20080716

Aquilino Ribeiro e a Pesca dos Gambozinos


“(...) Faltava-me filosofia, fui estudá-la para Viseu com Júlio Alves Martins, sobrinho do celebrado bispo do mesmo nome. Ainda por indicação de Manuel Henriques de Melo, meu transitório professor de primeiras letras e na sequência companheiro de caçada, instalei-me na Rua do Arco em casa da senhora Joaquina. (...)
Eu ignorava de todo o que era semelhante vigário, muito ao estilo da bexigada local. Consistia – o holofote dos etnólogos já andou a vasculhar a pouchada – em ir apanhar de noite ao rio estes anfíbios, extraordinariamente saborosos, meio lontra, meio Bordalo. O rio que ali passa é o Pavia, que no Verão mal chega para as lavadeiras da Ribeira desensaburarrem as cuecas dos viseenses. (...)
O neófito era conduzido até ali como para uma aventura, meio clandestina, meio tolerada, e punham-no de saco aberto, em guisa de galrito, à estrada desses pegos, enquanto a malta ia bater o curso do riacho, por entre salgueiros e amieiros, onde eles se acoitavam. A palavra de ordem era que estivesse muito atento, tão calado que nem respirasse sequer, senão os bichos ao mais pequeno ruído desarvoravam. A certa altura, na suspensão absoluta de todo o movimento, a pedrada chovia sobre o parolo.(...)
Comigo a segunda parte falhou de todo. Quando me vi atacado, acobertei-me por detrás duma touceira e sorna mudo, como bom neto de turdetano, municiando-me das pedras vomitadas pelas cheias do regato, que eram abundantes a meus pés, contra-ataquei com nutrido fogo.” (...)

Aquilino Ribeiro in "Um Escritor Confessa-se" esta pescaria aconteceu em 1902